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POLÍMATAS CÉLEBRES DA HISTÓRIA UNIVERSAL

A curiosidade fugaz, o interesse marcante ou uma iniciação superficial numa profusão de disciplinas e assuntos, e, a incluir, a publicação de um trabalho, ou mesmo a diplomação legítima, não dão à luz um polímata. Não, ao menos, segundo os dicionários Cambridge e Britannica que o definirão como uma pessoa que conhece muito, em amplitude e profundeza, a muitos assuntos, em termos de número e extensão. É uma mente de natureza sistemática e integrativa que vê nexos e relações entre a fé, a intuição, a razão e o sentimento que, até sua chegada, residiam ocultos aos proeminentes de sua época. O mesmo pode ser dito a partir de sua origem no qualificativo grego “polimatés”, “aquele que aprendeu muito”.

 

Foi lugar-comum do humanismo, iniciado já no Trecento de Três Coroas, i. e., Dante – filósofo, escritor, poeta, político, místico, literato –, Petrarca – filósofo, poeta, historiador, classicista, alpinista, diplomata, compositor – e Boccaccio – romancista, poeta, crítico literário, biógrafo, compositor, mitólogo – a convicção de que a capacidade humana para aprender e se desenvolver não tem limites, uma vez que esteja munida de uma curiosidade apaixonada, uma inteligência cultivada e, com efeito, um ideal de aperfeiçoamento universal. O próprio signo do “homem renascentista” conforme cunhado por Alberti – arquiteto, pintor, classicista, poeta, cientista, matemático – de que “um homem pode fazer todas as coisas caso queira” o expressa com clareza cristalina. Com efeito, o “Cortigiano” de Castiglione – diplomata, soldado, poeta, escritor –, inspirado nos “De Ofiiciis” e “De Oratore” de Cícero, deveria ser um retórico culto, um conhecedor de línguas antigas, um hábil instrumentista, autor de poemas sensíveis, conhecedor das artes e filosofias, ter boas maneiras no trato com outros cavalheiros, estar à par dos recentes eventos políticos, cultor das letras, conselheiro amistoso, elegante no trajar e no agir, habilidoso na equitação e na esgrima... Mas, sobretudo, e vale aqui especial ênfase, todas as personagens de seu manual, fac-símile da dialógica platônica, são unânimes em asseverar a não necessidade de nascimento nobre para ser um cavalheiro o mais perfeito possível, afinal, concluem, muitos notáveis e virtuosos dentro e fora da Itália são de humilde origem: basta que a nobreza e cortesania possa ser aprendida por meio da imitação dos melhores modelos de vida da História, até que se tornem enraizadas e naturais, livre de afetações e repletas de graça.

 

O termo foi aplicado pela primeira vez em 1603 na obra “De Polymathia tractatio: integri operis de studiis veterum” do filólogo alemão Johann von Wowern (1574-1612), na qual compendiou ilustres da História Universal que foram eminentes pensadores polifacéticos, como Aristóteles, Demócrito, Cícero e Galeno, com destaque para o papel sistematizador das Artes Liberais para seus estudos e ao longo dos séculos. Wowern, à página 19 da edição latina de 1665, disponível para consulta na Biblioteca da Abadia de Montserrat, assim define o conceito: “Perfectam Polymathian intelligo, notitiam variarum rerum, ex omni genere studiorum collectam, lastifimè fefe effundentem. Vagatur enim libero & effreni cursu per omnes disciplinarum campos quatenus eas humanum ingenium indefelsa industria adfequi poteft”. Em tradução livre, cito-o assim: “Refiro-me a um perfeito polímata, com conhecimento de muitas matérias, adquirido de toda sorte de estudos, transbordante em piedade. Pois ele se estende de forma livre e ilimitada por todos os campos das disciplinas, até onde o talento humano, com incansável energia, é capaz de alcançá-los”.

 

Não obstante este assomo histórico, a concepção de uma ciência ou sabedoria universal que coordene todo o saber disponível ao homem sobre a totalidade do mundo foi vigente nos dias poéticos de Homero, tanto quanto nos acadêmicos de Aristóteles, e a encontraremos meio às multidões silenciosas de eruditos da Biblioteca da Alexandria helenística, tanto quanto nos gabinetes privados dos filósofos alemães modernos, como um Leibniz e um Hegel, para naufragar sob as águas sombrias do paradigma contemporâneo do arrivismo profissional e da hiperespecialização acadêmicos. Não é outra, quem sabe, posso refletir, a razão para que as primeiras guildas escolares da Europa, como as de Paris, Bolonha e Oxford, no agitado século XIII – quando tais corporações urbanas integram leigos pobres e burgueses, e não apenas nobres como até então a Igreja o fizera, instauram o currículo e a diplomação como uma nova possibilidade de ascensão social, o livro volta a circular como a principal ferramenta de estudo e ensino, e Grécia e Roma são finalmente concebidas como o berço da civilização ocidental graças aos novos estudos de antigos como Boécio e Marciano Capela –, chamem-se “universitas”: uma formação universal para homens universais.

 

POLÍMATAS ANTIGOS

 

TALES DE MILETO (c. 624 – c. 546 a.C.)

 

Tales de Mileto, eminente entre os pré-socráticos, é frequentemente aclamado como o “Pai da Filosofia” devido às suas investigações fundamentais sobre a natureza do mundo.

 

Como matemático, introduziu conceitos pioneiros, notavelmente em geometria, que lançaram as bases para futuros estudiosos como Pitágoras e Euclides.

 

Além disso, suas observações astronômicas, particularmente sua previsão de um eclipse solar, mostraram uma mudança de explicações mitológicas para o raciocínio empírico, marcando uma profunda transformação no pensamento antigo.

 

Áreas de interesse: matemática, astronomia, física, engenharia, geometria, cosmologia e meteorologia.

 

PITÁGORAS (c. 570 – c. 495 a.C.)

 

Pitágoras, um dos maiores e mais misteriosos nomes do mundo antigo, fundou a primeira instituição de ensino do Ocidente e pôs em movimento um grande número de filósofos. Sua vida e obra entrelaçou os reinos da matemática, da filosofia e da espiritualidade.

 

O teorema que lhe foi atribuído, pedra angular no estudo de triângulos retângulos, ecoou por milênios, tornando-se um marco na educação matemática moderna.

 

Além da geometria, sua crença na transmigração das almas e a noção de que os números sustentam a própria estrutura do universo influenciaram profundamente os discursos filosóficos das gerações subsequentes.

 

Áreas de interesse: matemática, astronomia, geografia, religião, ética, teoria musical, política e física.

 

HIPÓCRATES (c. 460 – c. 370 a.C.)

 

Frequentemente aclamado como o “Pai da Medicina Ocidental”, revolucionou o campo médico ao desembaraçá-lo dos grilhões da superstição e defender uma abordagem sistemática e empírica para o diagnóstico e o tratamento.

 

Seu homônimo “Juramento”, um código de ética para médicos, perdurou por mais de dois milênios e continua sendo uma pedra de toque para a profissão médica atual.

 

Além de suas contribuições experimentais, como filósofo mergulhou na natureza da saúde humana, postulando que o equilíbrio entre os humores do corpo era central para o bem-estar – crença que influenciou a medicina ocidental por séculos.

 

Áreas de interesse: filosofia, medicina, nutrição, cirurgia, ética e epistemologia.

 

ARISTÓTELES (384–322 a.C.)

 

Aristóteles, figura imponente do pensamento grego antigo, foi aluno de Platão e, mais tarde, tutor de Alexandre Magno – posições que o orientaram de forma única na encruzilhada da evolução intelectual.

 

Seus diversos tratados cobriram vasta extensão de assuntos, desde as complexidades da classificação biológica e da origem do movimento até as nuances da ética e da política, estabelecendo pedras fundamentais para muitas disciplinas acadêmicas.

 

Sua abordagem centrada na observação empírica e na categorização sistemática, particularmente em biologia, juntamente com suas investigações filosóficas sobre a natureza do ser e as dimensões morais da vida humana, consolidaram seu legado como um dos pensadores mais influentes da História.

 

Áreas de interesse: biologia, filosofia, linguística, economia, política, psicologia, artes, ética, meteorologia, cosmologia, lógica, botânica, física, ótica, astronomia e geologia.

 

ARQUIMEDES (c. 287 – c. 212 a.C.)

 

Filho ilustre de Siracusa, destacou-se como uma das mentes mais engenhosas da Antiguidade, cujas contribuições inovadoras abrangeram os domínios da matemática, física e engenharia.

 

Reconhecido por sua descoberta dos princípios da flutuabilidade, frequentemente recontados através da lendária exclamação “Eureka!”, ele também introduziu técnicas matemáticas avançadas, como o método de exaustão, para aproximar o valor de pi e calcular áreas e volumes de formas geométricas.

 

Além disso, sua proeza inventiva é ressaltada por maravilhas da engenharia como o Parafuso de Arquimedes e máquinas de guerra defensivas, que demonstraram a aplicação de seus princípios científicos.

 

Áreas de interesse: matemática, física, engenharia, astronomia, geometria, invenções e filosofia.

 

ZHANG HENG (78–139)

 

Zhang Heng, dono de um intelecto prodigioso da Dinastia Han Oriental da China, avançou significativamente os domínios da astronomia, matemática e invenção durante uma das épocas culturais mais florescentes da China.

 

Seu astrolábio, um instrumento intrincado, demonstrou uma profunda compreensão do reino celestial, permitindo o rastreamento de movimentos planetários e a previsão de eclipses.

 

Além disso, seu sismoscópio, uma invenção pioneira, foi uma prova de seu brilhantismo inovador, pois podia detectar terremotos a centenas de quilômetros de distância – um feito sem paralelo no mundo antigo.

 

Áreas de interesse: matemática, astronomia, sismologia, engenharia, invenções, geografia, cartografia, etnografia, artes, filosofia, política e literatura.

 

GALENO (c. 129 –c. 210)

 

Galeno, emergindo do vibrante ambiente do Império Romano, tornou-se um dos mais ilustres médicos da Antiguidade, cujos insights e metodologias influenciariam a medicina ocidental por mais de um milênio.

 

Como médico e cirurgião, fundiu seu vasto conhecimento anatômico — obtido por dissecações — com observações clínicas, culminando em um sistema médico holístico que enfatizava o equilíbrio dos quatro humores do corpo.

 

Além disso, enquanto filósofo, habilmente entrelaçou a teoria médica com as tradições platônica e aristotélica, oferecendo uma síntese intelectual profunda que serviu como base para os estudos médicos medievais e renascentistas.

 

Áreas de interesse: anatomia, fisiologia, farmacologia, neurologia, filosofia, lógica e psicologia.

 

HIPÁTIA DE ALEXANDRIA (c. 350 – c. 415)

 

Maior intelectual de seu tempo, mártir da filosofia pagã e aclamada “última dos helenos”, Hipátia foi uma professora neoplatônica, com alunos de famílias notáveis de Alexandria nesta que entrou para a história ocidental como a época final da decadência imperial romana.

 

Sua paixão pela matemática e pela astronomia lhe conduziu a seguir os passos de grandes mestres como Diofanto e Ptolomeu – e deste último é-lhe creditado um trabalho de edição comentado de seu “Almagesto”, um dos textos científicos mais influentes da História.

 

Estudou as seções cônicas de Apolônio de Perga e produziu um comentário sobre a obra referencial “Arithmetica” de Diofanto, além de aperfeiçoar tecnicamente invenções como o astrolábio e o hidrômetro.

 

Em filosofia deixou-se conduzir pela escola neoplatônica de modo a levar uma vida virtuosa e admirável o suficiente para, não obstante ter sido assassinada por uma multidão de cristãos fanáticos sob influência política do bispo Cirilo, servir de modelo para a história de Santa Catarina de Alexandria.

 

Áreas de interesse: filosofia, matemática, astronomia, geometria, invenções e religião.

 

POLÍMATAS MEDIEVAIS

 

AL-KHWARIZMI (C. 780 – C. 850)

 

Ou na forma portuguesa Alcuarismi, foi um luminar da Era de Ouro Islâmica, ocupou uma posição de destaque na Casa da Sabedoria em Bagdá, onde liderou avanços em matemática e astronomia.

 

Amplamente reconhecido por introduzir a álgebra no mundo medieval, sua obra-prima, “Livro Compêndio sobre Cálculo por Restauração e Balanceamento”, não apenas estabeleceu conceitos fundamentais em cálculos algébricos, mas também nos deu o próprio termo “álgebra”.

 

Além de suas contribuições matemáticas, suas tabelas astronômicas, que recalibravam dados ptolomaicos, desempenharam um papel fundamental na orientação de gerações subsequentes de astrônomos no mundo islâmico e na Europa medieval.

 

Áreas de interesse: matemática, astronomia, geografia, história, tradução, literatura e cartografia.

 

AL-FARABI (C. 872 – C. 950)

 

Também Alfarábi, frequentemente apelidado de “Segundo Mestre” em deferência a Aristóteles, foi figura central na rica tapeçaria da tradição polímata islâmica, onde habilmente uniu a filosofia helenística ao pensamento islâmico.

 

No reino da filosofia, forneceu comentários profundos sobre as obras de Aristóteles e estabeleceu o pensamento neoplatônico como pedra angular da filosofia islâmica.

 

No entanto, sua proeza intelectual não se limitou apenas à filosofia — estudou prolificamente a matemática e seus escritos sobre música, particularmente seu tratado “Kitab al-Musiqa”, mergulharam fundo na ciência musical, ilustrando sua incomparável versatilidade.

 

Áreas de interesse: filosofia, teoria musical, política, religião, lógica, psicologia, astronomia, matemática, física, psicologia e ética.

 

IBN SINA (980–1037)

 

Mais conhecido sob a forma latina Avicena, destacou-se como um erudito monumental da era medieval por entrelaçar perfeitamente as tradições intelectuais do Oriente e do Ocidente.

 

Sua obra-prima, o “Cânone da Medicina”, permaneceu como uma referência médica seminal na Europa e no mundo islâmico por séculos, delineando uma abordagem sistemática para medicina, farmacologia e cirurgia.

 

Além de sua perspicácia médica, seus tratados sobre filosofia, mais notavelmente o “Livro da Cura”, buscavam reconciliar o pensamento aristotélico com a teologia islâmica, enquanto suas contribuições à astronomia consolidaram ainda mais seu legado como um dos polímatas mais proeminentes de sua era.

 

Áreas de interesse: medicina, filosofia, astronomia, alquimia, geografia, geologia, psicologia, teologia, matemática, física, lógica e poesia.

 

OMAR KHAYYAM (1048–1131)

 

Omar Khayyam, um erudito persa do Império Seljúcida, iluminou o cenário intelectual dos séculos XI e XII com seu gênio multifacetado.

 

Como matemático, ele forneceu contribuições significativas à teoria algébrica, com seu tratado sobre equações cúbicas sendo particularmente notável.

 

No entanto, é sua coleção de quadras, o “Rubaiyat”, que o imortalizou nos anais da literatura, onde suas profundas reflexões sobre a efemeridade da vida e os mistérios da existência cativam leitores por quase um milênio.

 

Áreas de interesse: matemática, astronomia, filosofia, religião e poesia.

 

HILDEGARD VON BINGEN (1098–1179)

 

Também conhecida como Santa Hildegarda, uma anacoreta alemã da tradição beneditina, cruzou o horizonte medieval europeu como uma das mentes mais ilustradas de seu tempo, mesclando perfeitamente a percepção espiritual com atividades acadêmicas.

 

Enquanto mística, suas visões e revelações foram meticulosamente registradas em obras como “Scivias”, fornecendo uma composição espiritual única que influenciou profundamente ao pensamento cristão.

 

Além de seu misticismo, as composições de Hildegard são um testamento de sua engenhosidade musical, enquanto suas incursões no mundo natural, documentadas em textos como “Physica”, ofereceram percepções profundas sobre as propriedades medicinais de plantas e animais.

 

Áreas de interesse: filosofia, mística, música, ética, ciências naturais e medicina.

 

POLÍMATAS MODERNOS

 

LEONARDO DA VINCI (1452–1519)

 

Emanando do fervor do Renascimento italiano, é frequentemente epitomizado como o “Homem Renascentista” por excelência, graças a sua curiosidade insaciável unindo arte, ciência e engenharia.

 

Como pintor, obras como “Mona Lisa” e “A Última Ceia” tornaram-se símbolos transcendentes de maestria artística, ilustrando sua capacidade incomparável de capturar as complexidades da emoção e da forma humanas.

 

No entanto, seus cadernos meticulosamente detalhados, repletos de observações científicas, esboços anatômicos e projetos visionários de engenharia, revelam uma mente que sondou incessantemente os limites da compreensão humana, tornando-o um dos polímatas mais famosos da história.

 

Áreas de interesse: anatomia, pintura, engenharia civil, arquitetura, música, invenções, física, cartografia, botânica, paleontologia, geologia, ótica, hidrologia e filosofia.

 

NICOLAU COPÉRNICO (1473–1543)

 

Nicolau Copérnico, filho de uma família de comerciantes poloneses, emergiu do cadinho do Renascimento para anunciar uma mudança paradigmática na maneira como a humanidade percebia seu lugar no cosmos.

 

Com seu trabalho inovador “De revolutionibus orbium coelestium” ou “Sobre as Revoluções das Esferas Celestes”, propôs um modelo heliocêntrico do universo, deslocando a Terra de sua posição central anteriormente assumida.

 

Essa reimaginação audaciosa, embora inicialmente tenha encontrado resistência, lançou as bases para a astronomia moderna, abrindo caminho para luminares posteriores como Kepler e Galileu refinarem ainda mais nossa compreensão da mecânica celeste.

 

Áreas de interesse: matemática, astronomia, línguas, tradução, economia, medicina, política, diplomacia e filosofia.

 

GALILEU GALILEI (1564–1642)

 

Galileu Galilei, uma das figuras mais transformadoras da Revolução Científica, está na junção onde a deferência do mundo medieval à autoridade encontrou o escrutínio empírico da era moderna.

 

Por meio de suas observações telescópicas, não apenas forneceu evidências irrefutáveis ​​para o modelo heliocêntrico copernicano, mas também descobriu corpos celestes, como as luas de Júpiter, e remodelou a compreensão da humanidade ocidental sobre os céus.

 

Além disso, seus experimentos em física terrestre, principalmente aqueles relacionados ao movimento de objetos, estabeleceram bases cruciais para as formulações subsequentes da mecânica clássica por pessoas como Isaac Newton.

 

Áreas de interesse: astronomia, física, matemática, engenharia, filosofia e invenções.

 

ATHANASIUS KIRCHER (1602–1680)

 

Athanasius Kircher, gênio alemão do século XVII, navegou pelo rico oceano da erudição barroca, deixando sua marca em disciplinas díspares enquanto encapsulava o ideal jesuíta de “contemplativos em ação”.

 

Como linguista, embarcou em esforços ambiciosos (embora muitas vezes especulativos) para decifrar escritas antigas, notavelmente suas tentativas de entender hieróglifos egípcios, anteriores à descoberta da Pedra de Roseta em mais de um século.

Além da linguística, a inventividade de Kircher deu origem a dispositivos como a lanterna mágica, um projetor antigo, enquanto suas obras volumosas sobre assuntos que vão da geologia à teoria musical solidificaram seu legado como um dos últimos verdadeiros homens da Renascença.

 

Áreas de interesse: religião, geologia, medicina, tradução, teoria musical, linguística, estudos bíblicos, sinologia e biologia.

 

BLAISE PASCAL (1623–1662)

 

Blaise Pascal, situado no vibrante meio intelectual da França do século XVII, deixou uma marca indelével nas ciências e humanidades, exibindo uma mente tão profunda na contemplação quanto ampla em escopo.

 

Como matemático e físico, ele fez contribuições pioneiras, incluindo o teorema de Pascal na geometria projetiva e os princípios da hidrodinâmica e hidrostática, mais notavelmente sintetizados na “Lei de Pascal”.

 

No entanto, seu lado introspectivo brilhou intensamente em seus “Pensamentos” publicados postumamente, uma coleção de fragmentos filosóficos que expõem questões existenciais e teológicas e revelam, deste modo, um pensador profundo que lidou com as tensões entre a fé e a razão.

 

Áreas de interesse: matemática, física, invenções, filosofia, teologia, economia e literatura.

 

GOTTFRIED WILHELM LEIBNIZ (1646–1716)

 

O pensador alemão Leibniz emergiu do fervor intelectual da Ilustração, e se destacou como um colosso que fez a ponte entre os mundos da filosofia, da matemática e da lógica.

 

No reino da matemática, ele é co-creditado com a invenção do cálculo diferencial e integral, independentemente de Isaac Newton, e introduziu um sistema de notação que permanece em uso atualmente.

 

Filosoficamente, Leibniz arguiu sobre profundas questões metafísicas, postulando, a título de exemplo, o conceito de “mônadas” como entidades indivisíveis e imateriais, enquanto seus avanços na lógica, particularmente o sistema binário, involuntariamente lançaram as pedras fundamentais para a futura era da ciência da computação.

 

Áreas de interesse: matemática, filosofia, diplomacia, teologia, ética, política, direito, história, filologia, jogos, música, medicina, biologia, psicologia, linguística, biblioteconomia e invenções.

 

ISAAC NEWTON (1643–1727)

 

Sir Isaac Newton, um titã da Revolução Científica, alterou para sempre a trajetória da compreensão humana por meio de suas explorações inovadoras do universo físico.

 

Em sua obra-prima, “Philosophiæ Naturalis Principia Mathematica”, formulou as três leis fundamentais do movimento e a lei universal da gravitação, oferecendo uma estrutura unificada que descrevia a dança dos corpos celestes e a queda de uma maçã.

 

Além da física, seu trabalho pioneiro em matemática, particularmente o desenvolvimento do cálculo (simultaneamente com Leibniz), e suas investigações sobre a natureza da luz e da cor na óptica consolidaram seu legado como uma das figuras mais transformadoras nos anais da ciência.

 

Áreas de interesse: matemática, física, astronomia, alquimia, teologia, filosofia, óptica, estudos bíblicos e geografia.

 

BENJAMIN FRANKLIN (1706–1790)

 

Benjamin Franklin é um testemunho da curiosidade ilimitada e do engajamento cívico do Iluminismo americano. Foi um polímata americano de muitos talentos.

 

Como cientista, mergulhou nos mistérios da eletricidade, notavelmente com seu experimento com uma pipa, estabelecendo princípios fundamentais que guiariam as gerações subsequentes.

 

Além do laboratório, suas inúmeras invenções, de óculos bifocais ao para-raios, demonstraram engenhosidade prática, enquanto sua estadística, exemplificada por seu papel fundamental na elaboração da Constituição dos EUA e esforços diplomáticos na França, o marcou como o arquiteto indispensável de uma república nascente.

 

Áreas de interesse: filosofia, política, ética, invenções, jornalismo, diplomacia, filantropia, física, oceanografia, linguagem, literatura, música e xadrez.

 

THOMAS JEFFERSON (1743–1826)

 

Thomas Jefferson, uma personificação dos ideais iluministas americanos, fundiu perfeitamente atividades intelectuais com contribuições fundamentais para a identidade de uma nação nascente.

 

Como arquiteto, seus projetos, mais notavelmente Monticello, refletiam uma estética neoclássica, casando tradições europeias com sensibilidades exclusivamente americanas.

 

No entanto, é seu papel como o principal autor da Declaração de Independência, e seu subsequente mandato como o terceiro presidente dos Estados Unidos, que estabelece firmemente o legado de Jefferson, de forma a revelar um estadista de profunda visão e complexidade navegando no tumultuado nascimento de uma república.

 

Áreas de interesse: política, agricultura, filologia, religião, diplomacia, direito, arquitetura, filosofia, linguística, arqueologia, geologia e invenções.

 

JOHANN WOLFGANG VON GOETHE (1749–1832)

 

Goethe, o colosso da literatura alemã e do romantismo europeu, navegou pelos vastos terrenos da experiência e do conhecimento humanos com erudição e introspecção inigualáveis.

 

Como escritor, legou ao mundo obras-primas literárias como “Fausto” e “Os sofrimentos do jovem Werther”, que mergulharam nas profundezas da paixão, do desespero e da transcendência humanos.

 

Além da literatura, as incursões de Goethe na ciência, exemplificadas por sua teoria das cores e estudos morfológicos, juntamente com suas reflexões filosóficas sobre arte, natureza e cultura, exibiram um espírito renascentista no coração dos séculos XVIII e XIX.

 

Áreas de interesse: poesia, teatro, literatura, política, crítica literária, artes, botânica, biologia, filosofia, anatomia, física, astronomia, química, geologia, morfologia, meteorologia e religião.

 

MARY SOMERVILLE (1780–1872)

 

A navegar pelas correntes intelectuais da Grã-Bretanha vitoriana do século XIX, Mary Somerville rompeu o teto de vidro de sua era para emergir como um farol nos campos da ciência tradicionalmente dominados por homens.

 

Como matemática e astrônoma, seu trabalho seminal “On the Connexion of the Physical Sciences” entrelaçou magistralmente fios díspares de conhecimento científico, abrindo caminho para a descoberta de Netuno devido a seus insights sobre perturbações na órbita de Urano.

 

Além das estrelas, seu grande interesse em geografia e sua defesa do envolvimento das mulheres no discurso científico consolidaram seu legado, levando ao seu reconhecimento como a primeira mulher membro da Royal Astronomical Society ao lado de Caroline Herschel.

 

Áreas de interesse: matemática, astronomia, literatura, filosofia, química e física.

 

CARL FRIEDRICH GAUSS (1777–1855)

 

Gauss, erudito alemão, é frequentemente aclamado como o “Príncipe dos Matemáticos”. Deixou uma marca indelével no caleidoscópio do pensamento científico do século XIX, com contribuições que abrangeram a amplitude das disciplinas matemáticas e físicas.

 

No reino da matemática, suas inovações variaram da teoria dos números, como evidenciado pelos inteiros “gaussianos” homônimos e pelo teorema dos números primos, até os fundamentos da estatística com a introdução da distribuição normal.

 

Concomitantemente, seus esforços em astronomia e física, marcados pela previsão precisa da órbita do asteroide Ceres e seu trabalho em magnetismo e eletricidade, mostraram um gênio versátil que misturou perfeitamente o pensamento abstrato com a investigação empírica.

 

Áreas de interesse: matemática, astronomia, geodésia, física, invenções, geometria, metrologia, óptica e magnetismo.

 

MICHAEL FARADAY (1791–1867)

 

Michael Faraday, proveniente do agitado meio científico da Grã-Bretanha oitocentista, é um elo entre a física clássica e a moderna, com descobertas que remodelaram profundamente nossa compreensão da interação entre eletricidade e magnetismo.

 

Com origens humildes como aprendiz de encadernador, a curiosidade inata de Faraday o levou a experimentos pioneiros, mais notavelmente sua demonstração de indução eletromagnética, que lançou as bases para a revolução tecnológica da geração de energia elétrica.

 

Sua compreensão intuitiva de fenômenos complexos, juntamente com sua introdução de conceitos como campos elétricos, garantiu seu legado não apenas como um experimentalista talentoso, mas também como um teórico visionário, fazendo a ponte entre observação e teoria.

 

Áreas de interesse: física, química, magnetismo, invenções e matemática.

 

POLÍMATAS CONTEMPORÂNEOS

 

JOHN STUART MILL (1806–1873)

 

O filósofo inglês John Stuart Mill destacou-se como pedra angular do pensamento liberal anglo-saxão, cujo pensamento tratou das complexidades dos direitos individuais, progresso social e estruturas econômicas.

 

Sua obra seminal, “Sobre a Liberdade”, defendeu o princípio da liberdade máxima consistente com a mesma liberdade para os outros, estabelecendo um argumento fundamental para os direitos individuais contra a invasão social e governamental.

 

Além da filosofia, suas contribuições para a economia, especialmente sua síntese das teorias ricardiana e smithiana em “Princípios de Política Econômica” e sua defesa dos direitos das mulheres em “A Sujeição das Mulheres”, atestam uma mente profundamente engajada com os desafios urgentes de sua era e da condição humana mais ampla.

 

Áreas de interesse: filosofia, economia, ética, política, epistemologia e botânica.

 

JOSE RIZAL (1861–1896)

 

José Rizal, nascido sob as sombras do domínio colonial espanhol no arquipélago filipino, surgiu como o fulcro em torno do qual as aspirações pela identidade e independência filipinas girariam no final do século XIX.

 

Como romancista, suas obras seminais, “Noli Me Tángere” e “El Filibusterismo”, mergulharam nos males e injustiças sociais do domínio colonial, acendendo um fervor pela reforma e indiretamente lançando as bases para um movimento nacional contra o domínio espanhol.

 

No entanto, o gênio multifacetado de Rizal não se limitou apenas à literatura —também foi oftalmologista e linguista talentoso, e sua eventual execução pelos espanhóis em 1896 galvanizaria seus compatriotas e solidificaria seu legado como o herói supremo da nação filipina.

 

Áreas de interesse: política, literatura, oftalmologia, artes, línguas, agricultura, jornalismo, poesia, economia, antropologia, artes marciais, história e cartografia.

 

ADA LOVELACE (1815–1852)

 

Ada Lovelace, culta filha do enigmático poeta Lord Byron, nascida no tumultuado mundo inglês do início do século XIX, transcendeu os limites de sua era para gravar seu nome nos anais da história da computação, tornando-se uma das polímatas femininas modernas mais conhecidas.

 

Colaborando com Charles Babbage, outro polímata inglês, em seu ambicioso “Analytical Engine”, Lovelace discerniu os potenciais mais amplos da máquina além de meros cálculos, escrevendo o que agora é reconhecido como o primeiro algoritmo de computador do mundo.

 

Por meio de seus escritos e previsões, ela é frequentemente aclamada como a primeira programadora de computador, um testamento de um intelecto visionário que vislumbrou o amanhecer de uma era digital muito antes de sua realização.

 

Áreas de interesse: matemática, literatura e computação.

 

RABINDRANATH TAGORE (1861–1941)

 

O espírito de Rabindranath Tagore sobrelevado do meio intelectual de Bengala durante o final do século XIX e início do século XX brilhou como uma figura luminar cuja influência reverberou além do subcontinente indiano.

 

Como poeta, seus versos evocativos, encaminhados em obras como “Gitanjali”, fundiram temas indianos tradicionais com valores humanísticos universais, rendendo-lhe o Prêmio Nobel de Literatura em 1913 — o primeiro não-europeu a ser consagrado.

 

Além da literatura, o gênio multifacetado de Tagore brilhou por meio de seus discursos filosóficos sobre diálogos Leste-Oeste, seus esforços pioneiros na educação com o estabelecimento da Universidade Visva-Bharati e suas incursões nas artes visuais, deixando para trás um legado como uma das grandes figuras renascentistas da Ásia.

 

Áreas de interesse: poesia, teatro, literatura, música, filosofia, religião, política, pintura e tradução.

 

NIKOLA TESLA (1856–1943)

 

Tesla, nascido no crepúsculo do século XIX em meio às crescentes correntes de inovação industrial da Europa, se destaca como uma figura cujo gênio visionário redefiniria fundamentalmente o cenário da engenharia elétrica moderna.

 

Imigrando para os Estados Unidos, o trabalho de Tesla em sistemas de corrente alternada (CA) apresentou uma alternativa transformadora às tecnologias de corrente contínua (CC) de Thomas Edison, culminando no desenvolvimento do motor CA e do projeto de energia das Cataratas do Niágara.

 

Além das guerras de correntes, os inúmeros experimentos de Tesla, que vão desde a comunicação sem fio até visões de energia livre, o marcaram como uma mente rebelde, persistentemente ultrapassando os limites do que era considerado possível em sua época.

 

Áreas de interesse: engenharia, futurismo, invenções e física.

 

ERWIN SCHRÖDINGER (1887–1961)

 

Subindo ao palco científico durante a tumultuada primeira metade do século XX, Schrödinger se tornaria figura central no drama da mecânica quântica por seus profundos desafios às intuições clássicas sobre a natureza da realidade.

 

Sua equação de onda, fundamental no desenvolvimento da teoria quântica, descreveu o comportamento dos sistemas quânticos em termos ondulatórios, levando a insights inovadores e ao famoso experimento mental, “o gato de Schrödinger”, que lidava com os princípios enigmáticos da superposição e da medição quântica.

 

Além dos limites da física, os interesses de Schrödinger eram de longo alcance, com seu trabalho “O que é a vida?” explorando a intersecção da física quântica e da biologia, e suas reflexões filosóficas mergulhando nas águas profundas da consciência, do determinismo e da natureza fundamental da existência.

 

Áreas de interesse: física, matemática, genética e filosofia.

 

ALBERT SCHWEITZER (1875–1965)

 

Albert Schweitzer esculpiu uma trajetória única que entrelaçou os reinos da teologia, da música e da medicina, e assim exemplificou um compromisso holístico com a melhoria da humanidade.

 

Como teólogo, suas profundas explorações sobre a vida e os ensinamentos de Jesus encontradas em “A Busca do Jesus Histórico”, sondaram os desafios de reconciliar a fé com a crítica histórica.

 

No entanto, seu verdadeiro legado pode estar em sua personificação do ethos de “reverência pela vida”, princípio filosófico que adotou e viveu, que o levou a estabelecer um hospital em Gabão na África Central, onde entrelaçou suas atividades médicas com sua virtuosidade como organista e sua profunda apreciação pelas obras de Johann Sebastian Bach.

 

Áreas de interesse: teologia, música, literatura, medicina e filantropia.

 

BUCKMINSTER FULLER (1895–1983)

 

Durante o desdobramento no cenário de um século XX rapidamente industrializado e globalizado, Fuller surgiu como um polímata visionário, buscando interseções harmoniosas entre design, ciência e potencial humano.

 

Como arquiteto e designer, talvez seja mais lembrado por seu “domo geodésico”, uma estrutura que simboliza eficiência e sustentabilidade, ideias centrais para seu ethos mais amplo de “fazer mais com menos”.

 

Além dos limites do design, as reflexões filosóficas de Fuller, vistas em seu conceito de “Spaceship Earth”, defendiam a ideia de cooperação global e administração de recursos, sustentando uma vida dedicada a soluções inovadoras para os grandes desafios da humanidade.

 

Áreas de interesse: arquitetura, design, futurismo, filosofia e invenções.

 

JACOB BRONOWSKI (1908–1974)

 

Jacob Bronowski, posicionado na intersecção das tumultuadas revoluções científicas e culturais do século XX, navegou por vários domínios e fundiu a análise rigorosa de um cientista com a percepção poética de um humanista.

 

Como biólogo e historiador da ciência, contemplou profundamente a evolução do conhecimento humano e suas profundas implicações, culminando em sua obra-prima, “The Ascent of Man”, uma série de televisão que traçou a jornada da humanidade desde as primeiras ferramentas de pedra até as fronteiras da ciência moderna.

 

Por meio de sua narrativa eloquente e reflexões contemplativas, Bronowski preencheu o abismo frequentemente percebido entre as ciências e as artes, defendendo uma compreensão holística da criatividade humana e da marcha inexorável do progresso intelectual.

 

Áreas de interesse: matemática, filosofia, história da ciência, biologia, geometria, pesquisa operacional e literatura.

 

NOAM CHOMSKY (nascido em 1928)

 

O pensador americano Chomsky aparece no cenário intelectual pós-Segunda Guerra Mundial de modo a remodelar os campos da linguística, da ciência cognitiva e do discurso crítico político.

 

Sua teoria revolucionária da gramática gerativa desafiou as noções predominantes de aquisição e estrutura da linguagem, postulando uma capacidade humana inata para a compreensão linguística.

 

No entanto, paralelamente às suas atividades acadêmicas, Chomsky tem sido um ativista político e crítico incansável, condenando as estruturas de poder do Estado e das empresas e defendendo uma ordem global mais igualitária e justa, estabelecendo-se como um dos polímatas modernos mais influentes dos séculos XX e XXI.

 

Áreas de interesse: filosofia, linguística, política e ciências cognitivas.

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